terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A hora e a vez do Curintia

Oh, corintianos, fiquem assim não..

O meu time, o glorioso Clube Atlético Mineiro (Galo forte vingador...), primeiro campeão brasileiro dessa vil série A, dono da metade do time da Copa de 70 (ah, vocês tem q ouvir as histórias que meu pai conta da Selegalo..) também passou, em tempos próximos, por essa tiração de sarro (sorte minha que já morava em São Paulo..).

Bom, até aí sem novidades... Mas demos a volta por cima! Não digo isso porque voltamos a essa cada vez mais sem graça série A (Brasileiro sem mata-mata não é futebol..), mas porque D. Dilma, senhora minha mãe, dona de uma lojinha no centro de Bom Despacho, me liga no final do ano passado (ocasião em que fomos campeões da cada vez mais divertida série B):

-Nó, acho que nunca vendi tanta camisa de futebol, Kívia (ok, a copa de 2002 foi mais gorda..). Atleticano compra camisa mesmo. O time pode tá ruim do que for, que eles sempre perguntam se tem coisa nova.

Tinhamos voltado. Eu tinha voltado a companhar os jogos, a espiar diariamente o Estado de Minas (on line), a dar birra por nao conseguir ir ao estádio. Como D. Dilma observou, atleticano nunca deixa de comprar camisa, nunca deixa de acompanhar, mas aquela campanha, que comecou com a ida para a segundona (e daí?), renovou nosos animos.

E é isso. Futebol é se emocionar. Chorar mesmo, pela bola na rede ou pelo penalti perdido; ocupar primeira página inteira, porque "puta que pariu, o torcedor deu o sangue pelo time". Lá em Minas, a oposição fica zuando que atleticano morre na praia, não tem mais que segundo lugar, e mesmo assim continua vendo a galoucura lotar o mineirao, comprar camisa na loja da D. Dilma... Não entendem a filosofia do atleticano, o sentido em que caminha a dialética da paixão futebolística (quer coisa mais sem sentido?) ... "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi"...

O Corinthias e a série B? Bom, talvez esse banho de humildade lave a sujeira de uma diretoria que não respeita uma das torcidas mais fanáticas do país (como foi o caso do meu time).

Mas que fique claro: chuuuupa curintia, que eu não esqueci o Brasileiro 99!!!! :D

"Galo forte vingador"!!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Mas aqui tem também pessoas de bom coração

O computador de onde normalmente escrevo aqui, foi um amigo que me deu. "Ah, tenho um PC que não uso mais, se você quiser ele...". Ele trouxe a máquina até a minha casa (em noite de chuva) e instalou Internet. Outro dia, me escreve:

- Ei, você não tem ainda caixas de som...

-Tudo bem, garoto, não é tão importante.

-Não, não, música é essencial.

E na festa seguinte ele me aparece com uma sacolinha com duas caixinhas de som e um CD com várias músicas alemãs, "pra você aprender mais a língua". Claro, tinha também uma coletânea do Pearl Jam!


O meu celular também vem de um amigo. No mesmo esquema não-uso-mais-pode-ficar. E é um luxo. Tira fotos, toca musiquinhas e tudo.


O trabalho esporádico como babá que eu tenho, foi graças a um conhecido iraniano - que, aliás, me deu as panelas que eu uso pra cozinhas e tantos almoços também. Um dia desses, ele me vem ofegante na universidade:

-Kívia, Kívia, achei um anúncio interessante no mural alí em baixo (ele é especializado nessas buscas, espera até o Google descobri-lo..).

-Mesmo? O que?

-Estão precisando de babá uma vez por semana. Os dados estão, aqui, ok? Liga lá.

-Ja, muito obrigada.

-Mas telefona mesmo! Oportunidade boa. Nao deixa passar, ok?


O bico de entregar flyers que devo fazer semana que vem, foi uma colega polonesa de Erasmus que me arrumou.


Poxa, e houve tantos outros casos de pessoas dispostas a me ajudar. Sem falar no mais de um mês em que fiquei sem casa, viajando Alemanha e Áustria, e sempre arrumava pessoas pra me hospedar gratuitamente (não passei uma noite em Hostel). Também houveram muitas caronas.

Da minha parte, tento retribuir como posso. Estou sempre recebendo estrangeiros na minha morada :) (um quarto, na verdade). Tenho um colchão extra (que achei no tal lixo-de-coisas-que-não-uso-mais) e um saco de dormir. By the way, tenho que ir buscar a australiana que está chegando!! Bye.

sábado, 24 de novembro de 2007

Assédio no trabalho

O telefone me acordou do quase sono. Ainda bem. Já era seis da tarde e eu ainda não havia saído para entregar meu currículo nos bares, restaurantes e hotéis; a via sacra da procura por trabalho.

"Oi, você me escreveu hoje, respondendo o meu anúncio de faxina em um escritório", falou uma voz de homem mais velho, com sotaque árabe. Ufa, vou ter dinheiro pro aluguel! Já fui me animando...

- Você tem tempo?
- Sim
-Hmmm. De onde você vem mesmo?
-Sou brasileira.
-Brasileira? Ach so! Hmm, gut, gut. Escuta, você não mora longe do meu escritório. Poderia vir aqui para conversarmos melhor?
-ok...

Lembrei do anúncio dele: "Procura-se mulher jovem, flexível e com tempo para limpeza de um escritório"...Vai que ele falou de uma jovem só porque quer uma pessoa (em teoria..) com mais energia, pra fazer o serviço em menos tempo.

Ingenuidade minha - ou negligencia mesmo, por precisar da grana. Do outro lado da mesa ele se limitava a ficar me olhando de cima a baixo. Se abria a boca, era pra responder as minhas cada vez mais nervosas perguntas. Dava sorrisos de quem goza algum prazer, mexia nos óculos, alisava as mãos e sempre repetia "ah, aqui tem muito estresse, sabe. Muito estresse..". E eu com medo até de pensar no que poderia estar passando pela cabeça dele.

- Ai, muito estresse...mas eu posso te ajudar a procurar trabalho.
-Que bom. Obrigada.
-Mas você também tem que me ajudar...
-Eu ajudo, limpando aqui.
- E você pode vir fazer uma massagem aqui também? - e colocou a mão na cabeça.
-Não!

O lugar é uma agência de viagens perto de Baseler Platz, Frankfurt - ainda volto pra olhar o nome e denunciar aqui. O dono é esse filho da puta egipciano que, enquanto me mostrava o lugar ainda ficou tentando colocar a mão na minha cintura. Olhei-o bem sério. Procuro trabalho de faxina. Tenho um namorado que respeito muito e a mim mesma também. "Ah, ok, ok, entendo".

Eu trabalharia aos sábados, a partir de hoje, e receberia 10 euros por hora. "Amanha te ligo para combinar o horário".

No dia seguinte, acesso o site onde vi a oferta do dito cujo e encontro um outro anúncio, com a mesma fonte 14 em negrito: "Procura-se mulher jovem e flexível para limpeza de escritório e massagem".

domingo, 18 de novembro de 2007

Visita grega

Não, não foi um cavalo de Tróia. Foi um homem de Atenas.

Dionisis é um entre os dezenas de estudantes de Erasmus (programa de intercâmbio estudantil entre os países europeus. Na verdade, todo estudante estrangeiro aqui é chamado genericamente de Erasmus) com quem convivo em Frankfurt. Como todos nós, ele almoça no Bandeijão, vai às festas universitárias semanais, fala alemão errado, veste jeans e é curioso. Ao contrário da maioria, ele não mora em uma Studentenwohnheim (moradia de estudante) ou WG (república), faz doutorado, não tem dificuldade em entender as aulas nem os textos (são em inglês..) e não tem pudores de perguntar.

Na sua curta de visita de hoje, ele soube pela vizinha espanhola, estudante de música, que um concerto de piano dura em média uma hora, não se pode eleger uma obra mais difícil de executar, nem um compositor, ela prefere Beethoven, piano exige mais de 10 anos de dedicação e tanto faz tocar sozinho ou em orquestra. Isso nos 20 minutos que eu tentava esquentar um copo de leite e não via que o microondas estava no "descongelar".

Bom, ao lado dessas pessoas a gente se sente convidado a querer saber tudo também. As casas gregas são todas brancas por causa do material usado na construção (alguma coisa com B). Tijolo? Não, não, é muito caro. Grécia em grego se diz Elássia. O país tem uns 12 milhões de habitantes e 4 milhões de atenienses. Esparta tem 50 mil habitantes (uma pequena polis lá em cima..).

Eu sabia quase todas as letras do alfabeto grego e não sabia que sabia (graças aos sinais que usamos na física, matemática etc). Eles tem letras minúsculas, maiúsculas e uma que ninguém usa (caligrafia). São dois os "O"s e três os "I"s, pronunciados do mesmíssimo jeito, mas escritos de forma diferente (e ele não me soube falar de nenhuma regra pra diferenciar). Quando não nos entendíamos em alemão, ele falava em grego, eu em português, e às vezes funcionava. Platão e os outros gregos da filosofia clássica são extremamente difíceis de serem entendidos pelos gregos de hoje. Pois é, a língua mudou um pouco nesses últimos 2 mil anos...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Heidelberg

Como é difícil começar. Mas começar aquela viagem foi especialmente difícil. Sempre aparecia um problema pra me prender em Frankfurt. E "problema" pode significar tanto a burocracia alemã quanto medo de colocar o pé na estrada sem grana, sem conhecer ninguém aqui, sem falar a língua direito e com as minhas seis camisetas, duas calças e um casaquinho na mala - este, aliás, eu perdi na primeira cidade.

Bem, mas quando um amigo italiano, Paolo, anunciou que ia visitar e eu já não tinha casa nem pra eu ficar, dei um jeito: fiz ele ficar comigo três horas plantado na saída de Frankfurt, esperando por uma carona. Depois do nosso insucesso, pegamos o trem mesmo. O único que peguei naquele um mês de viagem - trens na Alemanha são absurdamente caros.

Nas tentativas de chegar ao lugar onde está a universidade mais antiga do país, escrevi três vezes para o couchsurfer que me hospedaria, falando que estava partindo e nunca ia. Ainda bem que o rapaz entendia e até me escreveu uma vez:

"Para te animar um pouco, vou te contar o que o meu irmão falou. Ele disse que você deveria me falar pelo menos a cada duas semanas que você vem (não precisa necessariamente vir, o importante é anunciar). Isso traz grandes benefícios colaterais: ele limpou a cozinha, o banheiro e até o próprio quarto. Estão, estamos sempre felizes quando você disser que vem nos visitar :)".Como se vê, ele morou uns tempos no Brasil e pegou a nossa simpatia ;)

Jan e sua família me pareceram simplesmente diferentes. Ele e a mãe - por quem, aliás, sempre demonstra um grande carinho- falam juntos nove línguas!. Queria ter tido mais tempo par trocar idéias com ele. Conversei bastante foi com a irmã (em português), engenheira química que morou no nordeste do Brasil alguns meses, dando aulas para crianças de rua como professora voluntária. Sua expressão e palavras eram de desilusão: é difícil manter o projeto e mais ainda fazer com que as crianças se sintam atraídas pelas atividades pedagógicas e não voltem às ruas. Fazer com que nossa juventude pobre se sinta mais motivada a estudar, tenha mais auto-estima... De repente senti aquele meu drama de estudante de escola pública compreendido por uma alemã.

Aqueles dias na bucólica Heidelberg foram dos mais tranquilos e felizes desta viagem. Vários cochilos na beirada do rio Neckar (lá fiz churrasco alemão e vi top less pela primeira vez!). Passeios turísticos com o Paolo pelo castelo (o maior que já vi!), pelo Philosophenweg, que é onde, dizem, os filósofos iam buscar inspiração. Fiquei imaginando o que passava pela a cabeça daqueles caras de quem todo muito já ouviu falar, mas que ninguém entende, ao andar de um lado pro outro naquele jardim entre uma grande floresta e o fundo do precipício onde está Heildelberg.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Nota sobre o que passa e marca

De toda a relatividade de viajar e encontrar viajantes, eu insisto em uma óbvia constante: é sempre uma chance de conhecer novas pessoas. E no trocar figurinhas, parece que a experiência do outro se soma à nossa própria e saímos de cada encontro, festa ou barzinho mais maduros. Nessas circunstâncias, aparecem também aquele que poderia ser o melhor grupo de amigos, o lugar perfeito pra ser morar, o melhor amante ou aquele que poderia ser o amor da nossa vida.
Mas a fugacidade do tempo do viajante, por excelência alguém em transição - à espera do próximo trem ou da próxima carona-, faz de uma paixão em potencial uma mera boa lembrança.

P.s. Como seria se uma pessoa recém conhecida, com quem você se identificou muito e que mora do outro lado mundo, fosse sua vizinha?

E a primeira vez no Rhein...

Estava eu em Heidelberg, triste da vida porque o Paolo, meu amigo genovês de tantas besteiras, tinha voltado pra Itália depois de uma curta visita. E pra curar aquela tristezazinha aguda que bate quando temos que nos desacostumar de alguém, nada melhor que a Internet.

Pois estava eu "folheando" as páginas do couchsurfing.com (CS), quando um homem de uns 40 anos me escreveu perguntando se eu não queria que ele me mostrasse um pouco da cidade. O site sempre mostra quando estamos online e de que parte do mundo acessamos.

Ecco, bom amigo é bom amigo, insubstituível, principalmente um cara sem noção, bobo e que nunca cresce que nem o Paolo. A gente se identifica. Damos risada, logo somos felizes. Um encontro com outra pessoa seria uma chatice. Eu, que também estava desconfiada do convite (embora sejam normais no CS), respondi que já tinha visto muito de Heidelberg...mas aceitaria tomar um café. Ah, não resisto a uma oportunidade de bater papo. E antes uma conversa formal do que uma noite de depressão em casa.

Conversa formal? Talvez no primeiro buteco, onde ficamos tempo suficiente para o "de onde você vem", "o que você faz e quer fazer da vida". A essa altura, ele já parecia ansioso para mudar de rumo, e me perguntou se eu queria ir pra uma cidadezinha alí na França ou pra Mannheim. Como já assumi no parágrafo acima, sou sem noção e acabei aceitando o segundo convite.

E assim cruzei pela primeira vez aquela ponte grande, que revela de um lado o que comparei à cidade americana de Manhattan, mas que meu amigo explicou ser só a sede da Basf, pintando o céu negro de Mannheim com suas luzes e poluição.

Fomos a um restaurante italiano na beira do rio Rhein. Ele pagou tudo. Veio com o argumento de que, na Europa, quem já tem emprego paga para quem ainda é estudante. Com o orçamento restrito da minha viagem, eu nem discuti..Terminamos a noite com café e cappuccino em um bar moderninho no topo de uma torre enorme (der Wasserturm). A esse ponto, a gente já estava contando todos os tipos de causos e rachando de rir. Lembro dele falar da viagem a New Orleans com os colegas de trabalho: todos muito sérios até entrarem em um certo bar onde as garçonetes versavam tubos de ensaio com uma bebida bem forte em suas bocas, e daí serviam o líquido diretamente na boca do cliente. E eu que esperava uma noite de conversa formal...

O que esse cara está querendo comigo? Pensaria qualquer garota. Isso passou também pela a minha cabeça. Poderia ser um desses criminosos de mulher que tantos filmes e o bom jornalismo já cansaram de revelar. Poderia também ser alguém curioso por conhecer estrangeiros (como eu sou) ou só querendo uma companhia pra jogar conversa fora. E foi. Nunca me deu nenhuma cantada. Naquela minha viagem de agosto, eu e Robert ainda nos encontrariamos algumas vezes, vezes em que me ajudou e vezes em que mudou o rumo da minha viagem.

De volta a Mannheim

Hoje, pela segunda vez, cruzei aquela ponte larga sobre o rio Rhein, sustentada por cabos brancos que parecem descer do céu de tão longos. O convite não era dos mais atraentes: beber um vinho que ainda não deixou de ser suco (típico da região) e comer Zwiebelkuche (bolo de cebola). Não bebo álcool e detesto cebola. De todo jeito, faz sempre bem à curiosidade ver o que fazem os frequentadores de um clube privado de aviação, abrigado bem no aeroporto de Mannheim.

Além de degustar as iguarias já citadas, conseguem ficar duas horas assistindo a um filme amador sobre aviação, quase sem áudio. O clube tem o privilégio de ter um jardim que dá para a pista de pouso. Sim, o encontro mensal dos sócios é também um momento de ir no quintal com os amigos ou cônjuge para apreciar a aterissagem ensurdecedora dessas máquinas voadoras.

Os amantes da invenção que me perdoem, mas neste meu momento de descobrimento da Europa, com o mesmo espírito desbravador das propagadas de calça jeans que têm os "cools" da minha idade, sou mais afeita às frivolidades do mundo, como na primeira vez em que estive em Mannheim...

(Escrito em 01/10)

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

História pra contar

Minha ainda pouca experiência com o jornalismo me fez perceber que pode ser ainda mais difícil escrever quando realmente temos uma pauta. Quanto maior ou mais inesperado é um acontecimento, mais difícil é fazer recortes e fazer dos fatos histórias separadas, notícias, cronicas ou, como se diz na minha terra, causos. Assim tenho me sentido nos últimos dias. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que na hora de escrever aqui nunca sei por onde começar.

Ok, esta breve digressão metalinguística é só pra dizer que vou atualizar este blog em breve ;)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Festa dos imigrantes

Ontem evening, saí pra me perder um pouco, ainda em Stuttgart. Estava no meio de um Oásis verde, o Schlossgarten (Jardim do Castelo), rodeada por pombos, patos e crianças. De repente, não mais que de repente, escuto aquela música maravilhosa que o Sérgio Mendes "emprestou" ao Black Eyed Peas e que, há vários meses, bomba na Europa. Claro que brequei na hora. Segui o som e dei de cara com uma grande tenda em meio àquele bucolismo.

Vários imigrantes (parece que está escrito em nossa testa..) e um número significativo de pessoas com camisetas do Brasil. Cheguei ao primeiro e perguntei se ele era brasileiro. Moçambicano. Obviamente, também falava português. Me apresentou os amigos e pronto, já me senti enturmada pra dançar! No decorrer da bagunça, conheci até um rapaz de Bagdad, que me ensinou alguma coisa de árabe e de dança do ventre - sim, pasmem ... de dia: funcionário de uma das tantas montadoras automobilísticas de Stuttgart; de noite: frequentador de Arabisch Nacht (Noite Árabe).

Tocou-se música latina e Reggae. Ou seja, brasileiros, africanos e suas crianças se acabavam de dançar, enquanto os alemães observavam de suas mesas com curiosas expressões faciais. Os mais bêbados juntavam-se a nós. Um trio deles, pediu que eu os fotografasse. Em retribuição, fizeram uma foto minha com meu amigo iraquiano, que usava uma camiseta da Itália. Até agradeceram: obrigado, macarronada. Meu parceiro de dança respondeu à altura do humor alemão: de nada, salada de batatas.

domingo, 19 de agosto de 2007

Em uma esquina qualquer de Stuttgart....

Vim parar aqui num esquema de carona paga (mitfahrgelegenheit). Meus caroneiros eram um casal de bibas que ia partir às 10h, mas saiu só as 17h e ainda me deixou numa espécie de trevo da cidade. U Ó! Ainda bem que achei um ponto de ônibus e um americano que me deu instruções matemáticas sobre o caminho. Ele deve ter os meus anos e é estrangeiro a trabalho. Trabalho pesado, pelo o que percebi no aperto de mãos de despedida . Será que também ele sofre o preconceito que aflige os imigrantes-mão-de-obra deste continente? Não deu tempo de perguntar.

Segui as coordenadas que me levariam à minha nova moradia provisória e fui parar em um restaurante chinês! Ok, era só o térreo de um prédio, mas até descobrir a entrada dele...entrar em uma garagem, dar a volta, achar a porta; uma loucura!Toquei o interfone, me apresentei em alemão e, estranhamente, uma menina me respondeu: em inglês. Pensei que meu novo "host" (aquele que hospeda) morasse sozinho...

Uma garota oriental me recebeu. Ele havia saído, ela era outra hóspede, mas eu podia ficar à vontade no quarto - com três colchões. Ah, você se importa de dormir aqui? "Hmmm....eu tenho saco de dormir!". Ok. Precisa ir ao banheiro? Está com sede? Sim.

A primeira cozinha não organizada e com louça suja que vi na Alemanha. Ufa, já comecei a me sentir em casa. Eis que entra um garoto de cuecas pra evitar que sua pizza se queime. Era só o vizinho.

Melhor ir ao banheiro. Ao fechar a porta, outra surpresa: várias fotos da..."vida privada". Gente transando em diversas posições, bebendo, vomitando. Tinha até uma mina pagando uma pra um policial e um coelhinho azul fumando um beck. Tudo em um vaso sanitário. É, um pouco contrastante com as fotos de família que eu via na minha última casa.

estava sentindo falta do Crusp way of life...

(escrito em 17/08)

Eles reciclam

Interessante como os alemães levam à sério a reciclagem do lixo. Até em quarto individual eu já encontrei lixeirinha para restos em geral e outra só para papel. Sem falar que eles (assim como os italianos) sempre jogam o papel higiénico usado dentro do vaso sanitário. De pensar que quando era criança eu sempre levava bronca quando fazia isso... Aliás, muitos banheiros nem tem lixeira - o que pode render alguns apertos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Encontros casuais

É curioso como certos encontros fugazes podem influenciar de maneira decisiva nossos rumos. Às vezes nos aparecem esses seres "diferentes" que, por terem um forma peculiar de encarar a vida ou simplesmente por pertenceram a um meio com hábitos distintos dos nossos, nos planta a sementinha da mudança. Com eles, um diálogo de poucas horas pode revelar o que não conseguimos perceber em anos de rotina.

Os americanos Skyler e Clark iam para a Bósnia. Era o que pensavam as irmãs australianas Tanz e Else, que os conheceram rapidamente em outro ponto da Europa. Madrugada dessas, eu voltava com elas de uma breve noitada em um café aqui de Frankfurt quando, do outro lado de uma rua qualquer, avistamos a tal dupla do Arkansas deitada entre mochilas e violões. Com um rápido telefonema para Michael, o alemão que hospedava eu e as garotas, conseguimos permissão para os cinco passarmos a noite em sua sala.

Clark e Skyler viajam a Europa há cerca de três meses. Os pedaços de papelão que, na hora de pedir carona, usam para expressar o destino pretendido revelam os lugares que já visitaram: Franca, Bélgica, Holanda ... Alias, depois que descobriram esse meio de transporte, só viajam assim. Estão sempre tocando violão: param em um lugar qualquer, tocam as musicas conhecidas ou tiram um som no improviso. Quem gosta deixa moedas em um pote de sorvete. É com esse dinheiro que financiam a viajam (e só com ele). Dormem na casa de quem os acolhe ou "dentro daquela escultura esquisita que tem na praça", como, segundo Skyler, aconteceu na noite anterior.

O que leva dois estudantes, na faixa dos 20 anos, a encarar essa aventura? "Well, a gente tinha duas passagens para Londres e depois não sabíamos o que fazer", me diz um deles. Nenhuma pretensão de mudar o mundo. Só mesmo ânsia, necessidade de conhece-lo - antes de qualquer outra coisa. Assim me sinto.

As irmãs australianas também têm viajado. Não de carona, mas dormem de sofá em sofá (to couchsurfer). Bem, fiquei com todos eles só uma noite e amanhã tentarei ir para Heidelberg. Vi que não ia rolar aula nem trabalho em Frankfurt este mês, então, porque não passar o mês de cidade em cidade, de casa em casa? Acredito que seja até mais barato que ficar aqui. Espero.

domingo, 5 de agosto de 2007

O Meno

As primeiras cidades do mundo nasceram em torno de rios. O Tigre e o Eufrates eram para os habitantes de Ur fonte de alimento e meio de transporte. Da mesma forma, era em torno do rio Nilo que a vida do antigo Egito era mais intensa, com grande concentração de pessoas e muitas trocas. E as coisas continuam sendo assim, pelo menos nas beiradas frankfurtianas do Meno.

Como tem gente nos gramados que ladeiam esse rio! Não seria possível dar dez passos em linha reta sem derrubar a Coca ou o chá de alguém. Onde eles pegam essas bebidas? Em vez dos vendedores ambulantes de nossas praias, o Meno tem um barquinho-bar ancorado em uma de suas margens. Ele toca "dança do ventre" o dia inteiro e espalha suas mesas pelo gramado em frente: sobre "cobertores", são colocadas mesinhas circulares de dois palmos de altura e almofadas-cadeiras, bem no estilo Taj Mahal. Esse boteco ribeirinho nao vende dog prensado a um real e nem Wurst (o linguição alemão). Aqui tem é Kebab, uma espécie de burrito com churrasco grego. A bandeira turca no mastro e o nome do barquinho (Istambul) explicam.

Também nas águas, o movimento é intenso. Acabou de passar um cruzeiro chiquérrimo (parecia ser) com a bandeira da Suíça. Agora é a vez de um barco da Audi, com um carro novinho dentro, fazendo propaganda. Junto vem um igualmente médio com uma faixa "heute rundfahrt". Não sei o que quer dizer, mas deve ser "hoje, de graça", porque está lotaaado.

Do outro lado do rio? Adivinha. Um parque de diversão! Com roda-gigante e tudo. As barracas vão até tarde e a bebedeira e seus efeitos são de causar inveja aos brasileiros. Passei lá a uma da manh
ã. Fui barrada por um homem fantasiado de coelho cor-de-rosa (!) e cinco amigos de camisa laranja-cheguei. Explicaram que era a despedida de solteiro do coelhinho e que eu deveria dar um abraço nele. Ok, parabenizei o rapaz. Mas, como seus amiguinhos pediram mais, sorri um tchüss e fui.

As margens do Meno têm me revelado curiosas surpresas. Bem, espero para ver o que acontece até as dez, que é quando o sol se põe e eu me vou.
(escrito em 04/08, às 17h)

Charles de Gaulle


Já li algumas reportagens escritas diretamente das cadeiras de um aeroporto: Charles de Gaulle. Nunca entendi essa "preferência", nem dava muita importância ao fato, ao aeroporto e até mesmo ao país, seus habitantes e língua. Mas estar sentado em uma dessas cadeiras faz ver sobre outra perspectiva.

Num aeroporto de um país miscigenado e "sem preconceitos" como o Brasil não se veria tal diversidade. Bem à minha frente, um petit cawboy espera o vaqueiro pai, rabo-de-cavalo e bigodes grisalhos, lacrar as malas. Há pouco, passou um garoto com síndrome de Down conduzindo um cego. Neste instante, sentou-se à minha esquerda uma ruiva com um moreno.

Ok, ok, você vai dizer que em qualquer aeroporto do mundo, local de trânsito por definição, seria possível encontrar essa diversidade de monge de havaianas e pai negro que empurra seus três filhotes loiros em um carrinho de bagagens. É, em aeroportos pode-se ver mesmo tudo. Mas foi a primeira vez que, nos nove aeroportos internacionais por onde passei, ao descer para o saguão de desembarque, vi o amplo piso quase tomado por gente que dormia em cima de bagagem, abraçados a seus parceiros ou amigos quase que em uma cama coletiva. Tamanho camping não vi nem no Brasil destes tempos de apagão aéreo. Despreocupação, idem. Imagina se no Guarulhos de saltos, terninhos e penteados eu veria tal ... desapego. Os franceses e seus turistas podem ser mais brasileiros do que imaginamos!

P.s. Uma alemã acabou de ser a pessoa mais simpática que conheci aqui.
(escrito em 01/08, às 13h)