quarta-feira, 16 de julho de 2008

Letzte Tag in Deutschland

Es ist schwirig zu denken, dass dieses wunderschöne Jahr in zwei Koffer und ein Rückensack zusammengefasst ist. Ich habe gar kein Bock wieder in der stressigen Sao Paulo zu leben. Ich will auch echt net die Freunde, den Main, die Partys, meinen Wohnheim, einen spezialen Person (...) verlassen. Die einzige die ich in mein Land vermisse sind den Journalismus, die Familie und ein paar Freunde.

Ich kann einfach nicht akzeptieren, dass die schöne Zeit in Deutschland verbracht jetzt schon im Vergangeheit steht, dass ich schon morgen zurück sein werde. Ich mag nicht aufwachen.

Zu Hause ist nicht da, wo deine Schuhe stehen, sondern dort, wo du dein Herz hast. Folge deinem Herzen und höre niemals auf, deine Wünsche und Träume zu HÖREN und zu LEBEN! (von 'nem Freund)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

So sieht Sieg aus!

Saí da estacao Hauptwache de metro após a vitória alema por 3 a 2. Ao alcancar o último degrau, nao podia acreditar nos meus olhos nem nos meus ouvidos. A maior multidao que já vira ali ocupava a praca e a rua inteira. De um lado dela, um torcedor sentava-se em cima do semáforo de pedestres e sacudia com entusiamo a bandeira alema. Do outro lado, um tocedor escalava o semaforo dos caros agitando uma bandeira da...Turquia. Embaixo, misturavam-se dezenas das mesmas bandeiras, sacudidas por torcedores que entoavam o hino da noite "Türkiye, Deutschland! Türkiye, Deutschland!" Por essa ninguém esperava...

Policiais. Estes seriam o assunto da noite. Mas juro que o primeiro que eu vi estava de longe com uma camera na mao, só filmando o "espetáculo". Sim, claro, havia muitos, no mínimo o triplo do contigente normal em partidas. Alemanha e Turquia?? Pancadaria! Era necessário reforcar o policiamento. Nos dias e nas horas precedentes ao jogo, em todo lugar, só se ouvia falar nisso. Incrível como nem condicao técnica dos times nem nada de futebolístico era discutido.

Era como se aquele conflito velado entre os nativos e os que sao maioria entre imigrantes, entre eu trablaho em escritório e voce no MC Donalds, entre oriente e ocidente, membros da uniao européia e "novos bárbaros", cristoes e muculmanos, tivesse que enfim ser encarado e assistido. Estava alí, em campo, personificado pelo futebol. Acho que os proprios torcedores, de ambos países, se surpreenderam com a total falta de necessidade da polícia para "intermediar" a festa entre as partes.

E festejaram bonito! Era aelamo de moicano tricolar tocando samba (custei a reconhecer a música "O Brasil, do meu amor, terra de nosso Senhor.."), engravatado escalando poste para pendurar bandeira no topo, banhos de cerveja e todos cantando junto "So sieht Sieg aus! Schalalalalalala!" (esta é a aparencia da vitória) ou entao "Finale, oooo! Finale, oooo!" (parafrase da cancao italiana "Cantare, Volare") Os que tinham bandeiras de cada um dos países, atendiam eufóricos aos pedidos de turistas e jornalistas de juntarem-se para fazer uma foto. Chiara, amiga italiana, dona de uma daquelas cameras, chegou até mim com os olhos brilhando. "Madonna! Me veem arrepios. É uma cena que vou me lembrar pela vida inteira".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

E aos 47 do segundo tempo...Türkiye!

"Türkiye, Türkiye, Türkiye!" Os gritos eram entoados por torcedores com caras pintadas, camisetas vermelhas, buzinas, tambores e aquelas bandeiras vermelhas com uma lua e estrela ao centro. Muitas bandeiras. Em número ou em tamanho elas eram no mínimo tres vezes mais que as alemas no domingo passado, depois da vitória avassaladora contra a Polonia.

Estamos na Hauptwache, regiao central da cidade alema de Frankfurt am Main, e é inevitável nao comparar a festa das torcidas nesses dois dias. No fim de semana, a volta instantanea e quase silenciosa para a casa. "É que amanha é segunda-feira, muitos precisam trabalhar", comenta um amigo alemao. Nesta quinta-feira, o buzinaco de carros e motos é ouvido de longe. A música e os gritos ritimados da torcida, idem. Comento a diferenca com um rapaz ao meu lado. Ele observa entre risos "mas acho que nao há mais alemaes que turcos nesta cidade".

A torcida usa de toda a sua ciatividade para comemorar. Na entrada do metro, fazem uma "roda de samba", que na verdade toca danca do ventre. Os Homens entregam-se à danca. Um rapaz nos seus vinte anos, bandeirinhas turcas pintadas no rosto e lenco vermelho na cabeca, se poe a rebolar no meio da roda. Logo, logo ele levanta a camisa número 10 e mostra como os turcos sabem mexer a barriga. É imediatamente acompanhado por um colega. As mulheres vao ao delirio e se juntam à festa. Eu decido o destino da minha próxima viagem.

As demosntracoes de euforia nao param por aí. A bandeira nacional turca vira lenco de cabeca para as torcedoras mulcumanas. Ela é também pano da "tourada" com pedestres e carros que passam, enclusive um da polícia. Oops! Esse recebe tratamento especial: o torcedor coloca um cachecol da Turquia no para-brisa, vira de costas e mostra que nao é só o Brasil que sabe mexer a parte de trás. Todos os carros que passam trazem no mínimo uma bandeira e, no mínimo, uma pessoa pendurada na janela ou sentada no teto solar para sacudir essa bandeira.

Na praca, um grupo de torcedores sauda-se com um particular gesto de mao, que lembrava aqueles de show de rock: o dedo polegar une-se ao médio e anelar, enquanto o mínimo e indicador apontam para cima. Pergunto a um dos espectadores o que aquilo significava. "Esse gesto é proibido!". Por que? "Representa o nacionalismo turco. Nao tao forte como a saudacao de Hitler, mas nessa direcao.."

Em seguida, vejo o rosto de uma homem estampado em uma das bandeiras. Quem é? "Mustafa Kemal. Ele criou o Estado turco, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, quando as potencias européias dividiam a Turquia. Foi o primeiro presidente do país". Nao pude nao perguntar ao meu informante, que identificara-se como croata, como ele sabia de tudo aquilo. "Meu melhor amigo é turco".

Olho no relógio. Uma e meia da manha. Faz frio e vou fechar a janela. Ouco um barulho na escuridao do gramado. "Estamos te encomodando, Kívia?" Era o meu vizinho, com outras duas pessoas. Cada um traz uma bandeira da Turquia. "Nao, nao...estou ouvindo música ... e escrevendo sobre voces". Risos. "Entao vem aqui embaixo comemorar com a gente!"

Pausa

Eurocopa, manifestacoes estudantis, festas, viagens pelo interior do país...ai, é coisa demais acontecendo nestas minhas últimas semanas de Alemanha!Interrompo os relatos sobre a minha viagem européia para (tentar) contar o pouco do que tem acontecido nestes dias.
"Ao se falar do passado, nao se vive o presente" (alguém que eu esqueci)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Epifania de Bruxelas

Parece que nem tenho forca para escrever. A mao parece querer tremer. Muitas boas lembrancas da Bélgica. Respiro e fecho os olhos: o aglomerado de restaurantes à luz de lareira e velas, as casinhas desgastadas construídas juntinhas, os monumentos clássicos de tirar o folego, queijos e chocolates, caminhadas intermináveis, ficar perdida e encontrar lugares ocultos, o meu maravilhoso anfitriao...ai...

Pela janela do onibus me despeco de Bruxelas com os suspiros dos apaixonados. Quero escrever, quero falar com um sorrisao de tudo o que vi e senti aqui, mas, mas agora estou simplesmente demanchando!
Nao consigo narrar. Desculpa! Confesso que estou aqui há uma hora procurando o fio-da-meada ou, sei lá.

Sorry, depois eu conto. Agora só tenho espírito para poesia.
(escrito em 14/03/2008)

sábado, 31 de maio de 2008

Hungria

Boas lembrancas nao vou levar deste país. Ao chegar à Rodoviária, ontem à noite, o que senti foi medo. Sensacao estranha. Budapeste lembrou-me imediatamente de Sao Paulo. Muito transito, avenidas largas, prédios e mais prédios, luzes urbanas e, claro, chuva. Cheguei até a ficar feliz, na verdade. Um lugar parecido com o Brasil, acho que vou me sentir bem aqui. Nao foi nada disso.

O apartamento onde ficaria, nao foi dificil de encontrar. Até aconteceu uma série de coincidencias, o que reforca a imprenssao de início de coisa boa. Perguntei para um homen, aleatoriamente, onde ficava a rua para onde tinha que ir. Nao sabia. Logo em seguida, encontrou um amigo passando por alí. Ele sabia e estava indo para lá. No caminho, me contavam como o Brasil era parecido com a Hungria. Quanto à política, fatos sucessivos me fizeram acreditar que eles podem ser tao corruptos como nós.


Os moradores da casa me trataram bem. Muito bem até. Pode usar a internet à vontade. Colchao com coberta. Ajuda na hora de cozinhar. O banheiro é aqui, fica à vontade. Mas, cada um que chegava fazia um interrogatório. Aquilo nao foram conversas, foram intrevistas. E com críticas: voce nao fica muito tempo nos lugares. " Se ficar se olhando no vidro da janela, nao vai chegar a lugar algum".A saída relampago a dois pubs foi legal. Explorando lugares alternativos. Mas eu estava na verdade era muito desconfortável.

À noite, tive pesadelos de acordar várias vezes. Hoje de manha chovia ainda mais. A este ponto, quando finalmente deixo esta cidade, meus pés estao molhados e o coracao apertado. Tanto que até arrepio. Nao me peca esclarecimentos. Só quero sair daqui!

Nao é por menos. Depois de horas de caminhada, com quinze quilos nas costas, sem guarda-chuva, nao poderia estar de outro jeito. As placas sao em húngaro (lígua diferente de tudo, com parentesco só mesmo com o finlandes e, mesmo assim, distante) Algumas sao em ingles: ou se contradizem ou nao tem continuacao. Fui seguindo uma que indicava a Estátua do Pensador (foi o que entendi pela figura). Andei, andei. Cheguei à outra, indicando o mesmo monumento, só que em direcao oposta. Desisti. Falentes de ingles? Quase nao os encontrei. No fast-food, nao entenderam o meu pedido e paguei a mais. Tive que procurar alguém que falasse ingles, para desfazer o mal-entendido.

Mas a pior de todas as experiencias ainda estava por vir. Quando desci na estacao do metro que dá acesso à Rodoviária, quase aliviada por estar deixando o país, uns controladores de bilhete me param na entrada da escadaria. Adiantou nada eu procurar pelo meu ticket e dizer que eu o havia perdido - um pedacinho de papel laranja, feito à medida do meu dedo indicador.

O cara queria que eu pagasse 6 mil Florins (moeda húngara). Mostreu que só tinha 450 e que poderia comprar um outro ticket sem problemas. Ele, silencioso, pegou o dinheiro e pediu meu passaporte. Dei-o (puta ingenuidade!)

"Hmmm, Brasil...6 mil Florins". Que ódio! Adiantava menos ainda eu falar que nao tinha. Ele só repetia: 6 mil ou problema com a polícia. Eis que passa dois conhecidos do sujeito. Ele os cumprimenta com euforia e nao controla nenhum dos dois. Eu faltava explodir! "Por que voce nao os controlou??". "Nao precisa".

Eu revirava a minha mala (pois é, em público), mas nao adiantava. Mostrei o meu cartao de banco; era o que tinha. Ele só repetia: " no credit card"; 6 mil ou problema com a polícia. No fundo da mala acho trinta euros. Ele tinha o meu passaporte, eu estava prestes a perder meu onibus, com a prolongacao da humilhacao. Paguei.

Ele nao me deu troco. Queria me vender um bilhete para "a próxima viagem. O que? Eu estou indo embora agora. "Finished Budapest?". Sure! Depois desta experiencia, nao quero nunca mais voltar. Durou um tempo até eu convence-lo disso.

Refiz minhas malas. Peguei o bloquinho para anotar nome da pessoa e da estacao. "O que voce está fazendo?". Nao vou dar 25 euros assim na mao de alguém, depois dessa palhacada e sair assim. o senhor escreveu uma espécie de nota fiscal e me deu. Assinou com o número do seu crachá.

Desnecessário falar que o sistema de controle de transporte europeu dá uma larga margem para arbritariedades e injusticas. E eu nao sei se tenho mais medo dos que formulam as leis acima do bom senso, ou do que seleciona a quem aplicá-las - a ferro e fogo. Lembrei -me do filme Das Leben der Anderen ( A Vida dos Outros).
(escrito em 12/03/2008)

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Mais tarde, fico sabendo de outros dois conhecidos brasileiros que também tiveram que pagar essa multa no metro de Budapeste.

Bratislava

Mas onde é isso, Kívia? Nao teve um brasileiro que, ao saber que eu esava lí, nao fizesse esse pergunta. Capital da Eslováquia. Ou, para facilitar, cidade pertinho de Viena. Há quem pegue o trem para assistir à Opera vienense e volta ainda na mesma noite.

Nao faz muito tempo que esse aglomerado de 500 mil habitantes passou a ser chamado de Capital. Há apenas quinze anos, quando a Checoslováquia foi desmembrada em República Tcheca e Eslováqia. Como em outros lugares da Europa Oriental, a separacao de povos diferentes dentro do mesmo Estado só foi possível após a queda de regismes comunistas. No caso checoslovaco, esse processo foi apelidado por jornalistas da época de Revolucao de Veludo, por ter acontecido de forma nao violenta (vide foto).

Perguntei para os meus anfitrioes se existia alguma rivalidade entre os cidadoes dos dois países. Nem um pouco. "Temos problemas é com os húngaros". Desafeto que remonta às eras pré-medievais. Os dois países sao é muito ligados. Um entende a língua do outro (diz que é mais fácil que espanhol para nós). Eu tenho dois amigos eslovácos que fazem faculdade em Praga e intercambio aqui em Frankfurt. Uma zona...

Ambos estao também no mesmo barco sócio-economico. Bom, pelo menos assim pensava eu. Ambos do leste europeu, ex-comunistas, alta taxa de desemprego...mas a minha anfitria, Anna, diz que Bratislava vive um ótimo momento economico, muitas firmas extrangeiras (especialmente americanas) estao a procurar mao-de-obra especializada alí. Fato que, segundo Anna, está a atrair muitos tchecos para o país vizinho...

Infelizmente, nao tenho estatísticas para provar o que minha colega falou. Mas tenho fotos ;) Pode-se ver uma arquitetura moderna, prédios recentes e, até mesmo os com cara de outros séculos, pintadinhos e sem manchas. Muitos restaurantes chics à beira do rio Danúbio. "Pena", diz Boris, um dos meus anfitrioes, "porque antes de eles estarem alí, podíamos desfrutar o melhor gramado da cidade para fazer pique-nique".

Foi comecar a falar dos efeitos colaterais da..."modernizacao" de Bratislava para o meu terceiro anfitriao, estudante de teatro e cinema, se revoltar - e eu concordar. "Para construir a merda desta ponte, destruiram todo um bairro judeu antiguissimo! Esta regiao aqui era colorida, cheia de grafites, dava um ar alternativo à cidade, mas pintaram tudo de cinza". Foda. Mas pelo menos barzinhos curiosos tem de monte ainda. Neste daqui, chamado Certa (diabo, em eslovaco), eu pedi a primeira cerveja da minha vida. Custou menos de um euro, eles pagaram e foi sem álcool.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O meu saquinho de moedas

Uma semana antes de partir para a República Tcheca, ospedei uma amiga tcheca. Do nosso grupo de intercambistas, ela voltava para a casa depois de um semestre de estudos (ok, de festas..). Muito atenciosa e desapegada, ela me encheu de presentinhos! Entre eles, uma frigideira, uma caixa de chocolates "Merci" e um saquinho com moedas de coroa tcheca. "Nao é muito, mas voce pode precisar...".

No final das contas, aquilo financiou o meu fim de semana em Praga mais as lembrancinhas que estao aqui na minha estante: caixinha de fósforo com a foto do Franz Kafka, ex-morador ilustre da capital, e um quadrinho do Castelo visto da Charles Bridge, à noite, uma das maravilhas do mundo moderno!

Mas, o melhor de tudo dessa história do meu saquinho e seu, acho, um quilo de moedas, era a hora de pagar. Eu nao tinha a menor idéia da quantidade de euros que tinha ali, entao, antes de comprar qualquer coisa, tinha que primeiro contar as moedinhas e ver se elas alcancavam o valor. Aí era esperar a pessoa do caixa recontar tudo. Sem falar que quem que saiam comigo morria de ri - ou de vergonha.

Cheguei e fui ao supermercado. A mulher do caixa fala o preco que tenho que pagar. Nao enetendo o que ela fala. Olho para o número registrado no caixa e nao entendo o quanto de dinheiro aquilo é. Tiro o meu saquinho transparente com suas quinhentas moedas do bolso, abro a fitinha e coloco ele alí no balcao. Fazer o que...Estranhamente, as pessoas atrás de mim (muitas, aliás), com seus carrinhos cheios, comecam a me olhar com inimizade. Alguém falou alguma coisa. As vezes é muito bom ser ignorante. A caixa fala comigo e eu nao respondo. Ela entende minha situacao de forasteira. Simpaticamente sorri e se poe a contar as moedinhas de dentro do meu saco.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Boemia e jazz na Charles Bridge

Aqui presenciei uma das cenas mais bonitas da minha viagem. Era domingo à tarde, ainda inverno, mas o sol brilhava bem forte. Centenas de turistas, peregrinos da fé católica e da boemia, se misturavam naquela ponte, famosa por ser casa de 12 estátuas neoclássicas dos profetas e de muitos artistas itinerantes - e que artistas...

Ouco Jazz. Deixo-me levar pela música...chego a uma multidao. Sim, a música era muito animadora, o cantor carismático, contra-baixo afinado , mas, por que tanta gente ali?? Cheguei bem perto pra ver. Pude destinguir uma coisinha vermelha entre os artistas e o público. Uma lata pintada onde os jazzistas recebiam moedas de todas as prtes do mundo (incluindo meus euros). Nao sosseguei enquanto nao consegui um lugar na primeira fila.

E eis que vejo o motivo de tudo aquilo: uma crianca. O pirralho, do alto dos seus dois anos de idade, animava os turistas com seus "passinhos" de danca ultra-criativos, incluindo descer até o chao (o que ele tirava de letra), jogar os bracinhos pra cima frenéticamente, parecendo querer convidar os outros a seguí-lo. Bom, pelo menos com lentes os outros correspondiam ao "chamado". Contei umas 10 cameras mais 3 filmadoras. Eu estava entre os que se ajoelhavam para poder registrar aquela inesquecível cena à sua altura.

De vez em quando, nosso artista ousava, fechava a tampa da latinha de moedas e improvisva uma batera . Aí a mae tinha que intervir. Mas, bastava ela interomper a "arte" do filho, que ele reagia com lágrimas e gritos. Os outros caiam na risada. Eu, que passei o inverno inteiro reclamando que as pessoas se trancam em casa ou em cafés onde a água custa 3 euros, vivia um momento de jóia. Lembrava de como nós brasileiros somos barulhentos e pensava que nao há campo mais fértil para a criatividade que a rua, a beraido do rio, a praca. Arte brota da improvisacao, do inesperado; da vontade fervente de se manifestar, interagir e ir sendo feliz ao longo das descobertas. Nao pode ser regulada por precos, prazos e paredes.

domingo, 20 de abril de 2008

Capital: Praga

República Tcheca. Capital: Praga. Eu tinha lá os meus 12 anos quando soube disso. Nós éramos a mesma meia dúzia de moleques da sexta série fazendo trabalho de Geografia na casa do Leo.

Tcheca. Praga. Nao podia nao ser motivo de piada. "Que isso? Um lugar que chma Tcheca e ainda tem Capital Praga! Ah, nao! Só deve ter peste lá. deve ser o fim do mundo!" Pra citar um dos comentários menos maldosos. "Como se chma a mulher que vem da república Tcheca?" Huahuahua

Nao pude pensar em outra coisa quando ontem cruzei a fronteira deste país. Neste segundo dia de Praga, tenho que descordar dos nossos comentários maldosos. Os prédios mais bonitos que vi estao aqui. Sao igrejas, instituicoes oficiais e artísticas envelhecidas e escurecidas pelo longo somar de anos. Ao mesmo tempo, ve-se muitos tetos verdes, detalhes dourados, desenhos minuciosos de cores alegres e motivos ligados à natureza. Quando vi a ópera da cidade, deu vontade de sentar do outro lado da calcada e ficar só observando, de bobeira. Um mimo! Entendi porque o frances que conheci ontem no jogo de sinuca falou que escolheu Praga pela arquitetura.

Talvez a única praga de Praga seja aquela mesma que cai sobre os outros países do leste europeu: o desemprego - e seus efeitos colaterais. Ok, há uma outra praga: a língua! Dizem que, como o polones, é das mais difíceis, com mais casos/declinacoes que o alemao. E eu nem ouso duvidar! Depois de ficar meia hora de fast-food em fast-food tentando entender cardápios e precos...Mas beleza. Ficar perdida também leva a achados. Estou em um ouvindo metal de boa qualidade ;)
(escrito em 09/03/2008)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Česká Republika

"Kívia, sao vinte para às cinco"
"...ah, tá bom ... que horas sai o onibus?"
"Às cinco".
"..ok, às cinco... às cinco???"
E pulei da cama! Era o início daquele quase um mes de viagem, planejado com quase outros dois de antecedencia. Nao, nao! Perder o busao significaria atrassar todos os planos. Mas nem pensei nisso. Instantaneamente estava na rua. Lembro-me do meu amigo tirando a mochila pesada das minhas costas e correndo na minha frente através de um atalho. "Vou com voce, Kívia. Por aqui!". Sorte minha ter ficado na casa dele que mora perto da Estacao Central de Frankfurt, se nao...
Lembro também de eu tentando parar ofegante um onibus que saia. O motorista só balancou a cabeca e continuou. Meu coracao pulou. Aí vi a placa direcao Dresden ou algo assim. Uffa..
Nem deu tempo de respirar e fui vendo outro onibus. Era o meu que chegava atrasado comigo.
Entrei e apaguei.
Horas depois, presumo, fui acordada por dois homens.
"Reisepass, bitte!"
O passaporte está na mochila, lá em baixo..
"Entao vai pegar!"
Pergunta: onde estamos?
"Bavaria, pouco antes da fronteira com a República Checa"

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Tilmann Habermas

"Meu nome é Tilmann Habermas", claro que ele tinha que levantar a sobrancelha e mudar um pouco a voz ao pronunciar a última palavra. Assim iniciou ontem sua primeira aula. Uma figura! Tipo de professor especialista no assunto, que nao perde oportunidade de fazer uma piadinha e, claro, consegue prender a atencao dos alunos. E poe alunos nisso! No saguao de entrada, já tinha uma multidao aguardando a aula. Claro que pensei, "é, só porque ele é filho do Jürgen Habermas..". Mas no final da aula, fiquei com dúvidas.

A disciplina chama-se Psychoanalyse. Análise Psicológica, acredito. Promete ser um curso bem abrangente, comecando por Freud e o estudo da Histeria, pasando por Jung, Reich até Lacan (oposto do Freud, por assim dizer). Habermas, também psicologo, fez um teste conosco bastante interessante. Disse que era para uma pesquisa sua, mas nao quis contar o que era "para nao nos influenciar". Consistia em tres histórias trágicas e várias perguntas sobre o nosso estado de espírito ao ler cada uma deles (sempre as mesmas perguntas). Voce ficou triste com a História? Acha o contador da História simpático? Acha que o contador é simpático? As possibilidades de resposta variavam entre, "de jeito nenhum" e "extremamente". Esperar pra ver...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Viajando pela Europa

Desculpem-me, mas a "série" sobre a Escola de Frankfurt, o irmao do Habermas e afins, vai ter que esperar ainda algumas semanas. O motivo me parece justo. 

Há duas semanas iniciei uma viagem por alguns países europeus. Férias da faculdade eu já tinha há algum tempo, quando consegui umas semaninhas livres no trampo entao, nao pensei duas vezes. Deixei meu quarto livre e, ao invés de pagar o aluguel, comprei um passe que permite viajar o continente de busao. Era o momento de tirar aqueles velhos planos do papel e visitar amigos. A tática de sobrevivencia é o mesmo www.couchsurfing.com que já citei em outras postagens. Substituir restaurantes por supermercados também ajuda muito.

O rítmo tem sido intenso. Comecei pela República Checa (Praga) e fui seguindo para Eslováquia (Bratislava), Hungria (Budapeste), Bélgica (Buxelas), Inglaterra (Londres), Holanda (Amsterdam), Dinamarca (Copenhagen) até parar aqui, na Suécia (Gotenburgo), visitando uma grande amiga em sua cidade natal - ela que morou na minha Bom Despacho. Estou com passagens para Hamburg para logo mais e ainda pretendo ir para Paris no final da noite de amanha. Aí meu passe expira. Como eu vou voltar pra Frankfurt? Bom, se souberem de alguém oferecendo carona, me avisem!! :D

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

(N)A Escola de Frankfurt

Já se passaram quase sete meses desde que cheguei a esta cidade, o primeiro semestre de Johannes Wolfgang Universität acabou e só agora me toquei que estou estudando na Escola de Frankfurt! Meus Deus! O que fiz todo este tempo?

Foi aqui que aquela extensa crítica do marxismo se desenvolveu. Aqui Banjamin, Marcuse, Adorno e cia pensaram a Teoria Crítica da Sociedade. Aqui o Max Hockenheimer fundou o famigerado Institut für Sozialforschung (Instituto para Pesquisa Social). É aqui mesmo que estou! Pode parecer só um amontoado de nomes, índice de enciclopédia, citacao de tese, mas nao é. Pra mim nao. Essa corrente de pensamento me atraiu de esfriar as maos desde que ouvi falar dela. Nao me pergunte por que. Ainda estou tentando descobrir. Mas até fui estudar alemao de verdade! e, me diz, quando vou usar essa língua? De todo modo, acho que a compreeecao do século XX passa por ela.

Nao foi aqui que a , por assim dizer, sociedade alternativa, dos anos 60 e 70 tirava a roupa em nome da liberdade. Isso foi em Munique, no Englisch Garten, nas margens do rio Izar (e vi com estes olhinhos aqui que muitos fazem isso até hoje! ok, talvez agora em nome do calor).

Enfim, mas aqui o movimento estudantil se mostrou forte nesses anos dourados e rebeldes, aqui o consumismo e os valores "modernos" do pós-guerra geraram debates acalorados, ocuparam prédios. Como fez nossa geracao predecessora no Brasil. Lá combatiamos uma ditadura. Aqui já os efeitos coleterais do modo de produzir (e viver) segundo o capitalismo.

Pois bem, a coisa me veio assim. Soube, em uma festa semana passada, que o proeminente, e também complicadíssimo, filósofo Jürgen Habermas, tem um irmao que ainda leciona nesta universidade. Arrepios. Soube que o tema dele é Psicologia Social (Sozialpsychologie). Nem idéia de como ele se chama. Na busca pelo nome e ficha completa do professor, acabei ...

1) num emaranhado de links ultra-interessantes

Institut für Sozialforschung
http://www.ifs.uni-frankfurt.de/index.html (tem páginas com english version)

Quem dirige atualmente o Instituto? http://univis.uni-frankfurt.de/prg?show=info&key=936/persons/2008s:fb8/phili/phili/honnet

A nova e boa Wikipédia
http://de.wikipedia.org/wiki/Frankfurter_Schule (escolher o idioma na barra ao lado)

2) num extase de "nao acredito! Esta é mesma a Escola de Frankfurt"

3) numa angústia de "E daí se até hoje voce passava pelo instituto pra ir perder horas na internet e nem o reconhecia?".

4) num "plano" de parar de me acusar como uma pessoa que sempre perde tempo e me comprometer, nestes meses que me restam, a trazer entrevistas, curiosidades, "como as coisas estao andando" etc - aguardem, hehe

Como se chama o irmao do Habermas que ainda leciona aqui? Fica pra próxima

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Salsa com meu amigo suico

Aquele lugar nao foi nada fácil de encontrar. E eu já tinha estado lá uma vez. E tinha sido marcante. Estava com mesmo grupinho dos Erasmus que sempre vai às festas (curiosamente, os que mais apredem alemao) e dois hóspedes do dia: um americano que estava voltando de Kosovo, depois de dois anos como professor de ingles lá (o governo americano pagou uma nota pra ele! e nem tem formacao pedagógica) e uma garota australiana que, muito espalhafatosa e de boa, definitivamente é das minhas. Pois é, e por tempos fiquei recordando aquela noite de dezembro, em bate-papos e risadas solitárias:

Os amassos da minha amiga australiana com um italiano que nao falava ingles. Um alemao baixinho que se empolgou em dancar salsa e em falar espanhol comigo. Nao adiantou nada eu ter explicado pra ele que no Brasil a gente fala portugues e danca é Samba. Lembravo até do fast food onde a gente fez pit-stop depois da balada pra comer (eu, sorvete), mas nao lembrava do caminho...sou um desastre pra essas coisas.

Bom, como sempre acontece quando eu tenho que guiar alguém, ficamos andando em círculos. Sempre passávamos por um senhor de uns cinquenta anos, provavelmente morador daquela esquina, que fazia sua própria balada. O micro-system estava ligado no talo e tocava um desses techno-pop de balada. Ele dancava ao seu modo peculiar e se acabava de rir. Quando passávamos, nao pedia dinheiro. Dava boa noite. Retribuímos.

Sim, uma aventura achar a tal boate de salsa. Perguntavamos para todo mundo, mas tanto mocinhas com "fantasia" de baladas quanto os trabalhadores da redondeza nao sabiam dar as coordenadas do lugar, mas já tinham ouvido falar...Estava ficando frio demais andar contra o vento...decidido: vamos tentar alí à esquerda, se nao for, vamos fazer balada com o camarada do boom box. Vi tres almas vivas na rua e nao exitei. "Mas, Kívia, espera, eles nem falam alemao, sao espanhóis..." E eles contaram até a cor das luzes da fachada da balada...em uma alemao muito bom.

-Pensei que eles nao fossem daqui, que nao saberiam responder.
-É, eu também. Mas eles sao latinos, com certeza saberiam onde fica um clube de salsa.
-Salsa??...
-Sim, é salsa...

Quando chegamos na pista de danca entendi a expressao de preocupacao do meu amigo suico quando falei a palavra salsa. Alguns dos diálogos/observacoes que me lembro:

-Vamos olhar como eles dancam e fazer igual.
-Sim, sim.
- Hmmm, dois pra direita, dois pra esquerda...vamos tentar fazer isso?
-Sim, vamo lá..
-Mas eu comeco pra esquerda ou pra direita?
-...esquerda...
-Ok. Um, dois, tres... esquerda

E as coisas até que correram bem: forró dois-pra-cá-dois-pra-lá em ritmo de salsa. Wunderbar!

-Ah, gira-se também, Kívia.
-Sim, sim, é verdade.Vou girar...
(pausa)
- E agora continuamos a dancar como antes, né?
-Sim...
-Mas pra direita ou pra esquerda?
-...direita...

Tentativa

-É, mas é um pouco difícil continuar pela direita...
-Esquerda, tanto faz! Desde que a gente se divirta!

E desparamos a rir. E esbarravamos em casais, garcons com cerveja, pilastras. E encontramos até o italiano que minha amiga australiana tinha beijado. Que noite..

Na esquina, o nosso amigo da boom-box ainda estava presente. Mas em silencio. Dormia. "Meu Deus, como pode alguém dormir assim na rua?". "É, no meu país tem muitas, muitas pessoas que tem que fazer isso". "Sim, Kívia, mas o seu país é quente..". Fazia "menos qualquer coisa" graus.

Nao tinha mais metro para ir pra casa dele, entao convidei-o pra minha. Tenho mesmo um colchao reserva para os couchsurfers que hospedo...Passamos em um fast-food pra tomar sorvete. Perdemos o onibus por menos de cinco minutos. Mais meia-hora de espera e várias conversas sobre línguas. Fomos deitar repetindo "Como é injusto aprender um idioma. Voce luta, luta e tem um amigo seu cujo o pai vem de um país, a mae de um outro e a família mora em uma terceira pátria. Aprendem tres linguas de tabela...ai, odeio essas pessoas...é, eu também...boa noite".

Hoje, uma mensagem de celular me acorda. O italiano da minha amiga australiana.

"Bom dia, Kívia. Este é o meu número de telefone...tenha o bom dia...um beijo".

(...) pra nao me deixar esquecer que a vida é esse andar em círculos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Aff, chega!

Ai, mas deixa eu parar de recomendar links, que isso tem efeitos colaterais: ficar na frente do computador! Melhor seria ir pra biblioteca mesmo e aí, que sabe, conhecer outras pessoas, trocar dicas e figurinhas. Esse mal hábito do PC, além de alijar do convívio social, faz o usuário ficar pulando de link em link, o que gera desconcentracao e, logo, é prejudicial a qualquer tipo de aprendizado! Ok, todos já sabem, mas precisavam alertar dos males desse vício que eu conheco bem. De pensar que quando eu passei no vestibular nem sabia digitar...

E pra aprender alemao...

Eu recomendaria os seguintes links:

LEO
http://dict.leo.org/

Nao importa se a palavra que voce digita na busca desse site seja em ingles ou em alemao, ele vai traduzí-la de um idioma ao outro. E com muitas, muitas possibilidades. Esse dicionário online agiliza muito minhas leituras em alemao; isto é, quando eu nao desencano de ler para ficar conversando no chatt em portugues...

Before You Know It
http://www.byki.com/

Uso o site há pouco tempo, mas seu método de ensinar por cartinhas e fazer exercícios repetitivos me pareceu eficaz, do tipo que nao deixa esquecer fácil a palavra aprendida. Mas acho que tem maior serventia para principiantes.

Passagens baratas?

Aqui vao alguns links úteis:

Eurolines:
www.eurolines.com

Mochileiro pode escolher entre o passe de 15 e 30 dias. Ambos permitem viajar mais de 40 cidades, em diversos países, da Madrid a Vilnus, da Oslo a Roma. O problema é ter tempo para tudo isso... Em baixa temporada, o passe mensal para estudante custa 230 euros.

Interrail:
www.interrailnet.com

Pode-se comprar passe para um só país ou o global, que dá pra viajar quase a europa inteira, de Portugal à Turquia! Para jovens, viajar 10 dias entre um período de 22 dias custa 239 euros.

Ryanair:
www.ryanair.com

É a companhia low cost que por aqui mais faz sucesso entre os estudantes (sinonimo de sem grana). Se eu quisesse, por exemplo, passar o próximo fim de semana em Milao, pagaria 20 euros, ida e volta, taxas inclusas - querer eu quero, mas é final de semestre...
É bom prestar atencao em um pequeno detalhe: os voos dessa companhia geralmente partem de aeroportos distantes das cidades, o que pode encarecer a viagem. Só para chegar no Frankfurt Hahn, aeroporto de partida de onde moro, eu teria que desembolsar 12 euros e viajar quase duas horinhas..