Minha ainda pouca experiência com o jornalismo me fez perceber que pode ser ainda mais difícil escrever quando realmente temos uma pauta. Quanto maior ou mais inesperado é um acontecimento, mais difícil é fazer recortes e fazer dos fatos histórias separadas, notícias, cronicas ou, como se diz na minha terra, causos. Assim tenho me sentido nos últimos dias. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que na hora de escrever aqui nunca sei por onde começar.
Ok, esta breve digressão metalinguística é só pra dizer que vou atualizar este blog em breve ;)
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Festa dos imigrantes
Ontem evening, saí pra me perder um pouco, ainda em Stuttgart. Estava no meio de um Oásis verde, o Schlossgarten (Jardim do Castelo), rodeada por pombos, patos e crianças. De repente, não mais que de repente, escuto aquela música maravilhosa que o Sérgio Mendes "emprestou" ao Black Eyed Peas e que, há vários meses, bomba na Europa. Claro que brequei na hora. Segui o som e dei de cara com uma grande tenda em meio àquele bucolismo.
Vários imigrantes (parece que está escrito em nossa testa..) e um número significativo de pessoas com camisetas do Brasil. Cheguei ao primeiro e perguntei se ele era brasileiro. Moçambicano. Obviamente, também falava português. Me apresentou os amigos e pronto, já me senti enturmada pra dançar! No decorrer da bagunça, conheci até um rapaz de Bagdad, que me ensinou alguma coisa de árabe e de dança do ventre - sim, pasmem ... de dia: funcionário de uma das tantas montadoras automobilísticas de Stuttgart; de noite: frequentador de Arabisch Nacht (Noite Árabe).
Tocou-se música latina e Reggae. Ou seja, brasileiros, africanos e suas crianças se acabavam de dançar, enquanto os alemães observavam de suas mesas com curiosas expressões faciais. Os mais bêbados juntavam-se a nós. Um trio deles, pediu que eu os fotografasse. Em retribuição, fizeram uma foto minha com meu amigo iraquiano, que usava uma camiseta da Itália. Até agradeceram: obrigado, macarronada. Meu parceiro de dança respondeu à altura do humor alemão: de nada, salada de batatas.
Vários imigrantes (parece que está escrito em nossa testa..) e um número significativo de pessoas com camisetas do Brasil. Cheguei ao primeiro e perguntei se ele era brasileiro. Moçambicano. Obviamente, também falava português. Me apresentou os amigos e pronto, já me senti enturmada pra dançar! No decorrer da bagunça, conheci até um rapaz de Bagdad, que me ensinou alguma coisa de árabe e de dança do ventre - sim, pasmem ... de dia: funcionário de uma das tantas montadoras automobilísticas de Stuttgart; de noite: frequentador de Arabisch Nacht (Noite Árabe).
Tocou-se música latina e Reggae. Ou seja, brasileiros, africanos e suas crianças se acabavam de dançar, enquanto os alemães observavam de suas mesas com curiosas expressões faciais. Os mais bêbados juntavam-se a nós. Um trio deles, pediu que eu os fotografasse. Em retribuição, fizeram uma foto minha com meu amigo iraquiano, que usava uma camiseta da Itália. Até agradeceram: obrigado, macarronada. Meu parceiro de dança respondeu à altura do humor alemão: de nada, salada de batatas.
domingo, 19 de agosto de 2007
Em uma esquina qualquer de Stuttgart....
Vim parar aqui num esquema de carona paga (mitfahrgelegenheit). Meus caroneiros eram um casal de bibas que ia partir às 10h, mas saiu só as 17h e ainda me deixou numa espécie de trevo da cidade. U Ó! Ainda bem que achei um ponto de ônibus e um americano que me deu instruções matemáticas sobre o caminho. Ele deve ter os meus anos e é estrangeiro a trabalho. Trabalho pesado, pelo o que percebi no aperto de mãos de despedida . Será que também ele sofre o preconceito que aflige os imigrantes-mão-de-obra deste continente? Não deu tempo de perguntar.
Segui as coordenadas que me levariam à minha nova moradia provisória e fui parar em um restaurante chinês! Ok, era só o térreo de um prédio, mas até descobrir a entrada dele...entrar em uma garagem, dar a volta, achar a porta; uma loucura!Toquei o interfone, me apresentei em alemão e, estranhamente, uma menina me respondeu: em inglês. Pensei que meu novo "host" (aquele que hospeda) morasse sozinho...
Uma garota oriental me recebeu. Ele havia saído, ela era outra hóspede, mas eu podia ficar à vontade no quarto - com três colchões. Ah, você se importa de dormir aqui? "Hmmm....eu tenho saco de dormir!". Ok. Precisa ir ao banheiro? Está com sede? Sim.
A primeira cozinha não organizada e com louça suja que vi na Alemanha. Ufa, já comecei a me sentir em casa. Eis que entra um garoto de cuecas pra evitar que sua pizza se queime. Era só o vizinho.
Melhor ir ao banheiro. Ao fechar a porta, outra surpresa: várias fotos da..."vida privada". Gente transando em diversas posições, bebendo, vomitando. Tinha até uma mina pagando uma pra um policial e um coelhinho azul fumando um beck. Tudo em um vaso sanitário. É, um pouco contrastante com as fotos de família que eu via na minha última casa.
Já estava sentindo falta do Crusp way of life...
(escrito em 17/08)
Segui as coordenadas que me levariam à minha nova moradia provisória e fui parar em um restaurante chinês! Ok, era só o térreo de um prédio, mas até descobrir a entrada dele...entrar em uma garagem, dar a volta, achar a porta; uma loucura!Toquei o interfone, me apresentei em alemão e, estranhamente, uma menina me respondeu: em inglês. Pensei que meu novo "host" (aquele que hospeda) morasse sozinho...
Uma garota oriental me recebeu. Ele havia saído, ela era outra hóspede, mas eu podia ficar à vontade no quarto - com três colchões. Ah, você se importa de dormir aqui? "Hmmm....eu tenho saco de dormir!". Ok. Precisa ir ao banheiro? Está com sede? Sim.
A primeira cozinha não organizada e com louça suja que vi na Alemanha. Ufa, já comecei a me sentir em casa. Eis que entra um garoto de cuecas pra evitar que sua pizza se queime. Era só o vizinho.
Melhor ir ao banheiro. Ao fechar a porta, outra surpresa: várias fotos da..."vida privada". Gente transando em diversas posições, bebendo, vomitando. Tinha até uma mina pagando uma pra um policial e um coelhinho azul fumando um beck. Tudo em um vaso sanitário. É, um pouco contrastante com as fotos de família que eu via na minha última casa.
Já estava sentindo falta do Crusp way of life...
(escrito em 17/08)
Eles reciclam
Interessante como os alemães levam à sério a reciclagem do lixo. Até em quarto individual eu já encontrei lixeirinha para restos em geral e outra só para papel. Sem falar que eles (assim como os italianos) sempre jogam o papel higiénico usado dentro do vaso sanitário. De pensar que quando era criança eu sempre levava bronca quando fazia isso... Aliás, muitos banheiros nem tem lixeira - o que pode render alguns apertos.
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Encontros casuais
É curioso como certos encontros fugazes podem influenciar de maneira decisiva nossos rumos. Às vezes nos aparecem esses seres "diferentes" que, por terem um forma peculiar de encarar a vida ou simplesmente por pertenceram a um meio com hábitos distintos dos nossos, nos planta a sementinha da mudança. Com eles, um diálogo de poucas horas pode revelar o que não conseguimos perceber em anos de rotina.
Os americanos Skyler e Clark iam para a Bósnia. Era o que pensavam as irmãs australianas Tanz e Else, que os conheceram rapidamente em outro ponto da Europa. Madrugada dessas, eu voltava com elas de uma breve noitada em um café aqui de Frankfurt quando, do outro lado de uma rua qualquer, avistamos a tal dupla do Arkansas deitada entre mochilas e violões. Com um rápido telefonema para Michael, o alemão que hospedava eu e as garotas, conseguimos permissão para os cinco passarmos a noite em sua sala.
Clark e Skyler viajam a Europa há cerca de três meses. Os pedaços de papelão que, na hora de pedir carona, usam para expressar o destino pretendido revelam os lugares que já visitaram: Franca, Bélgica, Holanda ... Alias, depois que descobriram esse meio de transporte, só viajam assim. Estão sempre tocando violão: param em um lugar qualquer, tocam as musicas conhecidas ou tiram um som no improviso. Quem gosta deixa moedas em um pote de sorvete. É com esse dinheiro que financiam a viajam (e só com ele). Dormem na casa de quem os acolhe ou "dentro daquela escultura esquisita que tem na praça", como, segundo Skyler, aconteceu na noite anterior.
O que leva dois estudantes, na faixa dos 20 anos, a encarar essa aventura? "Well, a gente tinha duas passagens para Londres e depois não sabíamos o que fazer", me diz um deles. Nenhuma pretensão de mudar o mundo. Só mesmo ânsia, necessidade de conhece-lo - antes de qualquer outra coisa. Assim me sinto.
As irmãs australianas também têm viajado. Não de carona, mas dormem de sofá em sofá (to couchsurfer). Bem, fiquei com todos eles só uma noite e amanhã tentarei ir para Heidelberg. Vi que não ia rolar aula nem trabalho em Frankfurt este mês, então, porque não passar o mês de cidade em cidade, de casa em casa? Acredito que seja até mais barato que ficar aqui. Espero.
Os americanos Skyler e Clark iam para a Bósnia. Era o que pensavam as irmãs australianas Tanz e Else, que os conheceram rapidamente em outro ponto da Europa. Madrugada dessas, eu voltava com elas de uma breve noitada em um café aqui de Frankfurt quando, do outro lado de uma rua qualquer, avistamos a tal dupla do Arkansas deitada entre mochilas e violões. Com um rápido telefonema para Michael, o alemão que hospedava eu e as garotas, conseguimos permissão para os cinco passarmos a noite em sua sala.
Clark e Skyler viajam a Europa há cerca de três meses. Os pedaços de papelão que, na hora de pedir carona, usam para expressar o destino pretendido revelam os lugares que já visitaram: Franca, Bélgica, Holanda ... Alias, depois que descobriram esse meio de transporte, só viajam assim. Estão sempre tocando violão: param em um lugar qualquer, tocam as musicas conhecidas ou tiram um som no improviso. Quem gosta deixa moedas em um pote de sorvete. É com esse dinheiro que financiam a viajam (e só com ele). Dormem na casa de quem os acolhe ou "dentro daquela escultura esquisita que tem na praça", como, segundo Skyler, aconteceu na noite anterior.
O que leva dois estudantes, na faixa dos 20 anos, a encarar essa aventura? "Well, a gente tinha duas passagens para Londres e depois não sabíamos o que fazer", me diz um deles. Nenhuma pretensão de mudar o mundo. Só mesmo ânsia, necessidade de conhece-lo - antes de qualquer outra coisa. Assim me sinto.
As irmãs australianas também têm viajado. Não de carona, mas dormem de sofá em sofá (to couchsurfer). Bem, fiquei com todos eles só uma noite e amanhã tentarei ir para Heidelberg. Vi que não ia rolar aula nem trabalho em Frankfurt este mês, então, porque não passar o mês de cidade em cidade, de casa em casa? Acredito que seja até mais barato que ficar aqui. Espero.
domingo, 5 de agosto de 2007
O Meno
As primeiras cidades do mundo nasceram em torno de rios. O Tigre e o Eufrates eram para os habitantes de Ur fonte de alimento e meio de transporte. Da mesma forma, era em torno do rio Nilo que a vida do antigo Egito era mais intensa, com grande concentração de pessoas e muitas trocas. E as coisas continuam sendo assim, pelo menos nas beiradas frankfurtianas do Meno.
Como tem gente nos gramados que ladeiam esse rio! Não seria possível dar dez passos em linha reta sem derrubar a Coca ou o chá de alguém. Onde eles pegam essas bebidas? Em vez dos vendedores ambulantes de nossas praias, o Meno tem um barquinho-bar ancorado em uma de suas margens. Ele toca "dança do ventre" o dia inteiro e espalha suas mesas pelo gramado em frente: sobre "cobertores", são colocadas mesinhas circulares de dois palmos de altura e almofadas-cadeiras, bem no estilo Taj Mahal. Esse boteco ribeirinho nao vende dog prensado a um real e nem Wurst (o linguição alemão). Aqui tem é Kebab, uma espécie de burrito com churrasco grego. A bandeira turca no mastro e o nome do barquinho (Istambul) explicam.
Também nas águas, o movimento é intenso. Acabou de passar um cruzeiro chiquérrimo (parecia ser) com a bandeira da Suíça. Agora é a vez de um barco da Audi, com um carro novinho dentro, fazendo propaganda. Junto vem um igualmente médio com uma faixa "heute rundfahrt". Não sei o que quer dizer, mas deve ser "hoje, de graça", porque está lotaaado.
Do outro lado do rio? Adivinha. Um parque de diversão! Com roda-gigante e tudo. As barracas vão até tarde e a bebedeira e seus efeitos são de causar inveja aos brasileiros. Passei lá a uma da manhã. Fui barrada por um homem fantasiado de coelho cor-de-rosa (!) e cinco amigos de camisa laranja-cheguei. Explicaram que era a despedida de solteiro do coelhinho e que eu deveria dar um abraço nele. Ok, parabenizei o rapaz. Mas, como seus amiguinhos pediram mais, sorri um tchüss e fui.
As margens do Meno têm me revelado curiosas surpresas. Bem, espero para ver o que acontece até as dez, que é quando o sol se põe e eu me vou.
(escrito em 04/08, às 17h)
Como tem gente nos gramados que ladeiam esse rio! Não seria possível dar dez passos em linha reta sem derrubar a Coca ou o chá de alguém. Onde eles pegam essas bebidas? Em vez dos vendedores ambulantes de nossas praias, o Meno tem um barquinho-bar ancorado em uma de suas margens. Ele toca "dança do ventre" o dia inteiro e espalha suas mesas pelo gramado em frente: sobre "cobertores", são colocadas mesinhas circulares de dois palmos de altura e almofadas-cadeiras, bem no estilo Taj Mahal. Esse boteco ribeirinho nao vende dog prensado a um real e nem Wurst (o linguição alemão). Aqui tem é Kebab, uma espécie de burrito com churrasco grego. A bandeira turca no mastro e o nome do barquinho (Istambul) explicam.
Também nas águas, o movimento é intenso. Acabou de passar um cruzeiro chiquérrimo (parecia ser) com a bandeira da Suíça. Agora é a vez de um barco da Audi, com um carro novinho dentro, fazendo propaganda. Junto vem um igualmente médio com uma faixa "heute rundfahrt". Não sei o que quer dizer, mas deve ser "hoje, de graça", porque está lotaaado.
Do outro lado do rio? Adivinha. Um parque de diversão! Com roda-gigante e tudo. As barracas vão até tarde e a bebedeira e seus efeitos são de causar inveja aos brasileiros. Passei lá a uma da manhã. Fui barrada por um homem fantasiado de coelho cor-de-rosa (!) e cinco amigos de camisa laranja-cheguei. Explicaram que era a despedida de solteiro do coelhinho e que eu deveria dar um abraço nele. Ok, parabenizei o rapaz. Mas, como seus amiguinhos pediram mais, sorri um tchüss e fui.
As margens do Meno têm me revelado curiosas surpresas. Bem, espero para ver o que acontece até as dez, que é quando o sol se põe e eu me vou.
(escrito em 04/08, às 17h)
Charles de Gaulle
Já li algumas reportagens escritas diretamente das cadeiras de um aeroporto: Charles de Gaulle. Nunca entendi essa "preferência", nem dava muita importância ao fato, ao aeroporto e até mesmo ao país, seus habitantes e língua. Mas estar sentado em uma dessas cadeiras faz ver sobre outra perspectiva.
Num aeroporto de um país miscigenado e "sem preconceitos" como o Brasil não se veria tal diversidade. Bem à minha frente, um petit cawboy espera o vaqueiro pai, rabo-de-cavalo e bigodes grisalhos, lacrar as malas. Há pouco, passou um garoto com síndrome de Down conduzindo um cego. Neste instante, sentou-se à minha esquerda uma ruiva com um moreno.
Ok, ok, você vai dizer que em qualquer aeroporto do mundo, local de trânsito por definição, seria possível encontrar essa diversidade de monge de havaianas e pai negro que empurra seus três filhotes loiros em um carrinho de bagagens. É, em aeroportos pode-se ver mesmo tudo. Mas foi a primeira vez que, nos nove aeroportos internacionais por onde passei, ao descer para o saguão de desembarque, vi o amplo piso quase tomado por gente que dormia em cima de bagagem, abraçados a seus parceiros ou amigos quase que em uma cama coletiva. Tamanho camping não vi nem no Brasil destes tempos de apagão aéreo. Despreocupação, idem. Imagina se no Guarulhos de saltos, terninhos e penteados eu veria tal ... desapego. Os franceses e seus turistas podem ser mais brasileiros do que imaginamos!
P.s. Uma alemã acabou de ser a pessoa mais simpática que conheci aqui.
(escrito em 01/08, às 13h)
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