quinta-feira, 26 de junho de 2008

So sieht Sieg aus!

Saí da estacao Hauptwache de metro após a vitória alema por 3 a 2. Ao alcancar o último degrau, nao podia acreditar nos meus olhos nem nos meus ouvidos. A maior multidao que já vira ali ocupava a praca e a rua inteira. De um lado dela, um torcedor sentava-se em cima do semáforo de pedestres e sacudia com entusiamo a bandeira alema. Do outro lado, um tocedor escalava o semaforo dos caros agitando uma bandeira da...Turquia. Embaixo, misturavam-se dezenas das mesmas bandeiras, sacudidas por torcedores que entoavam o hino da noite "Türkiye, Deutschland! Türkiye, Deutschland!" Por essa ninguém esperava...

Policiais. Estes seriam o assunto da noite. Mas juro que o primeiro que eu vi estava de longe com uma camera na mao, só filmando o "espetáculo". Sim, claro, havia muitos, no mínimo o triplo do contigente normal em partidas. Alemanha e Turquia?? Pancadaria! Era necessário reforcar o policiamento. Nos dias e nas horas precedentes ao jogo, em todo lugar, só se ouvia falar nisso. Incrível como nem condicao técnica dos times nem nada de futebolístico era discutido.

Era como se aquele conflito velado entre os nativos e os que sao maioria entre imigrantes, entre eu trablaho em escritório e voce no MC Donalds, entre oriente e ocidente, membros da uniao européia e "novos bárbaros", cristoes e muculmanos, tivesse que enfim ser encarado e assistido. Estava alí, em campo, personificado pelo futebol. Acho que os proprios torcedores, de ambos países, se surpreenderam com a total falta de necessidade da polícia para "intermediar" a festa entre as partes.

E festejaram bonito! Era aelamo de moicano tricolar tocando samba (custei a reconhecer a música "O Brasil, do meu amor, terra de nosso Senhor.."), engravatado escalando poste para pendurar bandeira no topo, banhos de cerveja e todos cantando junto "So sieht Sieg aus! Schalalalalalala!" (esta é a aparencia da vitória) ou entao "Finale, oooo! Finale, oooo!" (parafrase da cancao italiana "Cantare, Volare") Os que tinham bandeiras de cada um dos países, atendiam eufóricos aos pedidos de turistas e jornalistas de juntarem-se para fazer uma foto. Chiara, amiga italiana, dona de uma daquelas cameras, chegou até mim com os olhos brilhando. "Madonna! Me veem arrepios. É uma cena que vou me lembrar pela vida inteira".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

E aos 47 do segundo tempo...Türkiye!

"Türkiye, Türkiye, Türkiye!" Os gritos eram entoados por torcedores com caras pintadas, camisetas vermelhas, buzinas, tambores e aquelas bandeiras vermelhas com uma lua e estrela ao centro. Muitas bandeiras. Em número ou em tamanho elas eram no mínimo tres vezes mais que as alemas no domingo passado, depois da vitória avassaladora contra a Polonia.

Estamos na Hauptwache, regiao central da cidade alema de Frankfurt am Main, e é inevitável nao comparar a festa das torcidas nesses dois dias. No fim de semana, a volta instantanea e quase silenciosa para a casa. "É que amanha é segunda-feira, muitos precisam trabalhar", comenta um amigo alemao. Nesta quinta-feira, o buzinaco de carros e motos é ouvido de longe. A música e os gritos ritimados da torcida, idem. Comento a diferenca com um rapaz ao meu lado. Ele observa entre risos "mas acho que nao há mais alemaes que turcos nesta cidade".

A torcida usa de toda a sua ciatividade para comemorar. Na entrada do metro, fazem uma "roda de samba", que na verdade toca danca do ventre. Os Homens entregam-se à danca. Um rapaz nos seus vinte anos, bandeirinhas turcas pintadas no rosto e lenco vermelho na cabeca, se poe a rebolar no meio da roda. Logo, logo ele levanta a camisa número 10 e mostra como os turcos sabem mexer a barriga. É imediatamente acompanhado por um colega. As mulheres vao ao delirio e se juntam à festa. Eu decido o destino da minha próxima viagem.

As demosntracoes de euforia nao param por aí. A bandeira nacional turca vira lenco de cabeca para as torcedoras mulcumanas. Ela é também pano da "tourada" com pedestres e carros que passam, enclusive um da polícia. Oops! Esse recebe tratamento especial: o torcedor coloca um cachecol da Turquia no para-brisa, vira de costas e mostra que nao é só o Brasil que sabe mexer a parte de trás. Todos os carros que passam trazem no mínimo uma bandeira e, no mínimo, uma pessoa pendurada na janela ou sentada no teto solar para sacudir essa bandeira.

Na praca, um grupo de torcedores sauda-se com um particular gesto de mao, que lembrava aqueles de show de rock: o dedo polegar une-se ao médio e anelar, enquanto o mínimo e indicador apontam para cima. Pergunto a um dos espectadores o que aquilo significava. "Esse gesto é proibido!". Por que? "Representa o nacionalismo turco. Nao tao forte como a saudacao de Hitler, mas nessa direcao.."

Em seguida, vejo o rosto de uma homem estampado em uma das bandeiras. Quem é? "Mustafa Kemal. Ele criou o Estado turco, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, quando as potencias européias dividiam a Turquia. Foi o primeiro presidente do país". Nao pude nao perguntar ao meu informante, que identificara-se como croata, como ele sabia de tudo aquilo. "Meu melhor amigo é turco".

Olho no relógio. Uma e meia da manha. Faz frio e vou fechar a janela. Ouco um barulho na escuridao do gramado. "Estamos te encomodando, Kívia?" Era o meu vizinho, com outras duas pessoas. Cada um traz uma bandeira da Turquia. "Nao, nao...estou ouvindo música ... e escrevendo sobre voces". Risos. "Entao vem aqui embaixo comemorar com a gente!"

Pausa

Eurocopa, manifestacoes estudantis, festas, viagens pelo interior do país...ai, é coisa demais acontecendo nestas minhas últimas semanas de Alemanha!Interrompo os relatos sobre a minha viagem européia para (tentar) contar o pouco do que tem acontecido nestes dias.
"Ao se falar do passado, nao se vive o presente" (alguém que eu esqueci)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Epifania de Bruxelas

Parece que nem tenho forca para escrever. A mao parece querer tremer. Muitas boas lembrancas da Bélgica. Respiro e fecho os olhos: o aglomerado de restaurantes à luz de lareira e velas, as casinhas desgastadas construídas juntinhas, os monumentos clássicos de tirar o folego, queijos e chocolates, caminhadas intermináveis, ficar perdida e encontrar lugares ocultos, o meu maravilhoso anfitriao...ai...

Pela janela do onibus me despeco de Bruxelas com os suspiros dos apaixonados. Quero escrever, quero falar com um sorrisao de tudo o que vi e senti aqui, mas, mas agora estou simplesmente demanchando!
Nao consigo narrar. Desculpa! Confesso que estou aqui há uma hora procurando o fio-da-meada ou, sei lá.

Sorry, depois eu conto. Agora só tenho espírito para poesia.
(escrito em 14/03/2008)