Bem, mas quando um amigo italiano, Paolo, anunciou que ia visitar e eu já não tinha casa nem pra eu ficar, dei um jeito: fiz ele ficar comigo três horas plantado na saída de Frankfurt, esperando por uma carona. Depois do nosso insucesso, pegamos o trem mesmo. O único que peguei naquele um mês de viagem - trens na Alemanha são absurdamente caros.
Nas tentativas de chegar ao lugar onde está a universidade mais antiga do país, escrevi três vezes para o couchsurfer que me hospedaria, falando que estava partindo e nunca ia. Ainda bem que o rapaz entendia e até me escreveu uma vez:
"Para te animar um pouco, vou te contar o que o meu irmão falou. Ele disse que você deveria me falar pelo menos a cada duas semanas que você vem (não precisa necessariamente vir, o importante é anunciar). Isso traz grandes benefícios colaterais: ele limpou a cozinha, o banheiro e até o próprio quarto. Estão, estamos sempre felizes quando você disser que vem nos visitar :)".Como se vê, ele morou uns tempos no Brasil e pegou a nossa simpatia ;)
Jan e sua família me pareceram simplesmente diferentes. Ele e a mãe - por quem, aliás, sempre demonstra um grande carinho- falam juntos nove línguas!. Queria ter tido mais tempo par trocar idéias com ele. Conversei bastante foi com a irmã (em português), engenheira química que morou no nordeste do Brasil alguns meses, dando aulas para crianças de rua como professora voluntária. Sua expressão e palavras eram de desilusão: é difícil manter o projeto e mais ainda fazer com que as crianças se sintam atraídas pelas atividades pedagógicas e não voltem às ruas. Fazer com que nossa juventude pobre se sinta mais motivada a estudar, tenha mais auto-estima... De repente senti aquele meu drama de estudante de escola pública compreendido por uma alemã.
Aqueles dias na bucólica Heidelberg foram dos mais tranquilos e felizes desta viagem. Vários cochilos na beirada do rio Neckar (lá fiz churrasco alemão e vi top less pela primeira vez!). Passeios turísticos com o Paolo pelo castelo (o maior que já vi!), pelo Philosophenweg, que é onde, dizem, os filósofos iam buscar inspiração. Fiquei imaginando o que passava pela a cabeça daqueles caras de quem todo muito já ouviu falar, mas que ninguém entende, ao andar de um lado pro outro naquele jardim entre uma grande floresta e o fundo do precipício onde está Heildelberg.