Já se passaram quase sete meses desde que cheguei a esta cidade, o primeiro semestre de Johannes Wolfgang Universität acabou e só agora me toquei que estou estudando na Escola de Frankfurt! Meus Deus! O que fiz todo este tempo?
Foi aqui que aquela extensa crítica do marxismo se desenvolveu. Aqui Banjamin, Marcuse, Adorno e cia pensaram a Teoria Crítica da Sociedade. Aqui o Max Hockenheimer fundou o famigerado Institut für Sozialforschung (Instituto para Pesquisa Social). É aqui mesmo que estou! Pode parecer só um amontoado de nomes, índice de enciclopédia, citacao de tese, mas nao é. Pra mim nao. Essa corrente de pensamento me atraiu de esfriar as maos desde que ouvi falar dela. Nao me pergunte por que. Ainda estou tentando descobrir. Mas até fui estudar alemao de verdade! e, me diz, quando vou usar essa língua? De todo modo, acho que a compreeecao do século XX passa por ela.
Nao foi aqui que a , por assim dizer, sociedade alternativa, dos anos 60 e 70 tirava a roupa em nome da liberdade. Isso foi em Munique, no Englisch Garten, nas margens do rio Izar (e vi com estes olhinhos aqui que muitos fazem isso até hoje! ok, talvez agora em nome do calor).
Enfim, mas aqui o movimento estudantil se mostrou forte nesses anos dourados e rebeldes, aqui o consumismo e os valores "modernos" do pós-guerra geraram debates acalorados, ocuparam prédios. Como fez nossa geracao predecessora no Brasil. Lá combatiamos uma ditadura. Aqui já os efeitos coleterais do modo de produzir (e viver) segundo o capitalismo.
Pois bem, a coisa me veio assim. Soube, em uma festa semana passada, que o proeminente, e também complicadíssimo, filósofo Jürgen Habermas, tem um irmao que ainda leciona nesta universidade. Arrepios. Soube que o tema dele é Psicologia Social (Sozialpsychologie). Nem idéia de como ele se chama. Na busca pelo nome e ficha completa do professor, acabei ...
1) num emaranhado de links ultra-interessantes
Institut für Sozialforschung
http://www.ifs.uni-frankfurt.de/index.html (tem páginas com english version)
Quem dirige atualmente o Instituto? http://univis.uni-frankfurt.de/prg?show=info&key=936/persons/2008s:fb8/phili/phili/honnet
A nova e boa Wikipédia
http://de.wikipedia.org/wiki/Frankfurter_Schule (escolher o idioma na barra ao lado)
2) num extase de "nao acredito! Esta é mesma a Escola de Frankfurt"
3) numa angústia de "E daí se até hoje voce passava pelo instituto pra ir perder horas na internet e nem o reconhecia?".
4) num "plano" de parar de me acusar como uma pessoa que sempre perde tempo e me comprometer, nestes meses que me restam, a trazer entrevistas, curiosidades, "como as coisas estao andando" etc - aguardem, hehe
Como se chama o irmao do Habermas que ainda leciona aqui? Fica pra próxima
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Salsa com meu amigo suico
Aquele lugar nao foi nada fácil de encontrar. E eu já tinha estado lá uma vez. E tinha sido marcante. Estava com mesmo grupinho dos Erasmus que sempre vai às festas (curiosamente, os que mais apredem alemao) e dois hóspedes do dia: um americano que estava voltando de Kosovo, depois de dois anos como professor de ingles lá (o governo americano pagou uma nota pra ele! e nem tem formacao pedagógica) e uma garota australiana que, muito espalhafatosa e de boa, definitivamente é das minhas. Pois é, e por tempos fiquei recordando aquela noite de dezembro, em bate-papos e risadas solitárias:
Os amassos da minha amiga australiana com um italiano que nao falava ingles. Um alemao baixinho que se empolgou em dancar salsa e em falar espanhol comigo. Nao adiantou nada eu ter explicado pra ele que no Brasil a gente fala portugues e danca é Samba. Lembravo até do fast food onde a gente fez pit-stop depois da balada pra comer (eu, sorvete), mas nao lembrava do caminho...sou um desastre pra essas coisas.
Bom, como sempre acontece quando eu tenho que guiar alguém, ficamos andando em círculos. Sempre passávamos por um senhor de uns cinquenta anos, provavelmente morador daquela esquina, que fazia sua própria balada. O micro-system estava ligado no talo e tocava um desses techno-pop de balada. Ele dancava ao seu modo peculiar e se acabava de rir. Quando passávamos, nao pedia dinheiro. Dava boa noite. Retribuímos.
Sim, uma aventura achar a tal boate de salsa. Perguntavamos para todo mundo, mas tanto mocinhas com "fantasia" de baladas quanto os trabalhadores da redondeza nao sabiam dar as coordenadas do lugar, mas já tinham ouvido falar...Estava ficando frio demais andar contra o vento...decidido: vamos tentar alí à esquerda, se nao for, vamos fazer balada com o camarada do boom box. Vi tres almas vivas na rua e nao exitei. "Mas, Kívia, espera, eles nem falam alemao, sao espanhóis..." E eles contaram até a cor das luzes da fachada da balada...em uma alemao muito bom.
-Pensei que eles nao fossem daqui, que nao saberiam responder.
-É, eu também. Mas eles sao latinos, com certeza saberiam onde fica um clube de salsa.
-Salsa??...
-Sim, é salsa...
Quando chegamos na pista de danca entendi a expressao de preocupacao do meu amigo suico quando falei a palavra salsa. Alguns dos diálogos/observacoes que me lembro:
-Vamos olhar como eles dancam e fazer igual.
-Sim, sim.
- Hmmm, dois pra direita, dois pra esquerda...vamos tentar fazer isso?
-Sim, vamo lá..
-Mas eu comeco pra esquerda ou pra direita?
-...esquerda...
-Ok. Um, dois, tres... esquerda
E as coisas até que correram bem: forró dois-pra-cá-dois-pra-lá em ritmo de salsa. Wunderbar!
-Ah, gira-se também, Kívia.
-Sim, sim, é verdade.Vou girar...
(pausa)
- E agora continuamos a dancar como antes, né?
-Sim...
-Mas pra direita ou pra esquerda?
-...direita...
Tentativa
-É, mas é um pouco difícil continuar pela direita...
-Esquerda, tanto faz! Desde que a gente se divirta!
E desparamos a rir. E esbarravamos em casais, garcons com cerveja, pilastras. E encontramos até o italiano que minha amiga australiana tinha beijado. Que noite..
Na esquina, o nosso amigo da boom-box ainda estava presente. Mas em silencio. Dormia. "Meu Deus, como pode alguém dormir assim na rua?". "É, no meu país tem muitas, muitas pessoas que tem que fazer isso". "Sim, Kívia, mas o seu país é quente..". Fazia "menos qualquer coisa" graus.
Nao tinha mais metro para ir pra casa dele, entao convidei-o pra minha. Tenho mesmo um colchao reserva para os couchsurfers que hospedo...Passamos em um fast-food pra tomar sorvete. Perdemos o onibus por menos de cinco minutos. Mais meia-hora de espera e várias conversas sobre línguas. Fomos deitar repetindo "Como é injusto aprender um idioma. Voce luta, luta e tem um amigo seu cujo o pai vem de um país, a mae de um outro e a família mora em uma terceira pátria. Aprendem tres linguas de tabela...ai, odeio essas pessoas...é, eu também...boa noite".
Hoje, uma mensagem de celular me acorda. O italiano da minha amiga australiana.
"Bom dia, Kívia. Este é o meu número de telefone...tenha o bom dia...um beijo".
(...) pra nao me deixar esquecer que a vida é esse andar em círculos.
Os amassos da minha amiga australiana com um italiano que nao falava ingles. Um alemao baixinho que se empolgou em dancar salsa e em falar espanhol comigo. Nao adiantou nada eu ter explicado pra ele que no Brasil a gente fala portugues e danca é Samba. Lembravo até do fast food onde a gente fez pit-stop depois da balada pra comer (eu, sorvete), mas nao lembrava do caminho...sou um desastre pra essas coisas.
Bom, como sempre acontece quando eu tenho que guiar alguém, ficamos andando em círculos. Sempre passávamos por um senhor de uns cinquenta anos, provavelmente morador daquela esquina, que fazia sua própria balada. O micro-system estava ligado no talo e tocava um desses techno-pop de balada. Ele dancava ao seu modo peculiar e se acabava de rir. Quando passávamos, nao pedia dinheiro. Dava boa noite. Retribuímos.
Sim, uma aventura achar a tal boate de salsa. Perguntavamos para todo mundo, mas tanto mocinhas com "fantasia" de baladas quanto os trabalhadores da redondeza nao sabiam dar as coordenadas do lugar, mas já tinham ouvido falar...Estava ficando frio demais andar contra o vento...decidido: vamos tentar alí à esquerda, se nao for, vamos fazer balada com o camarada do boom box. Vi tres almas vivas na rua e nao exitei. "Mas, Kívia, espera, eles nem falam alemao, sao espanhóis..." E eles contaram até a cor das luzes da fachada da balada...em uma alemao muito bom.
-Pensei que eles nao fossem daqui, que nao saberiam responder.
-É, eu também. Mas eles sao latinos, com certeza saberiam onde fica um clube de salsa.
-Salsa??...
-Sim, é salsa...
Quando chegamos na pista de danca entendi a expressao de preocupacao do meu amigo suico quando falei a palavra salsa. Alguns dos diálogos/observacoes que me lembro:
-Vamos olhar como eles dancam e fazer igual.
-Sim, sim.
- Hmmm, dois pra direita, dois pra esquerda...vamos tentar fazer isso?
-Sim, vamo lá..
-Mas eu comeco pra esquerda ou pra direita?
-...esquerda...
-Ok. Um, dois, tres... esquerda
E as coisas até que correram bem: forró dois-pra-cá-dois-pra-lá em ritmo de salsa. Wunderbar!
-Ah, gira-se também, Kívia.
-Sim, sim, é verdade.Vou girar...
(pausa)
- E agora continuamos a dancar como antes, né?
-Sim...
-Mas pra direita ou pra esquerda?
-...direita...
Tentativa
-É, mas é um pouco difícil continuar pela direita...
-Esquerda, tanto faz! Desde que a gente se divirta!
E desparamos a rir. E esbarravamos em casais, garcons com cerveja, pilastras. E encontramos até o italiano que minha amiga australiana tinha beijado. Que noite..
Na esquina, o nosso amigo da boom-box ainda estava presente. Mas em silencio. Dormia. "Meu Deus, como pode alguém dormir assim na rua?". "É, no meu país tem muitas, muitas pessoas que tem que fazer isso". "Sim, Kívia, mas o seu país é quente..". Fazia "menos qualquer coisa" graus.
Nao tinha mais metro para ir pra casa dele, entao convidei-o pra minha. Tenho mesmo um colchao reserva para os couchsurfers que hospedo...Passamos em um fast-food pra tomar sorvete. Perdemos o onibus por menos de cinco minutos. Mais meia-hora de espera e várias conversas sobre línguas. Fomos deitar repetindo "Como é injusto aprender um idioma. Voce luta, luta e tem um amigo seu cujo o pai vem de um país, a mae de um outro e a família mora em uma terceira pátria. Aprendem tres linguas de tabela...ai, odeio essas pessoas...é, eu também...boa noite".
Hoje, uma mensagem de celular me acorda. O italiano da minha amiga australiana.
"Bom dia, Kívia. Este é o meu número de telefone...tenha o bom dia...um beijo".
(...) pra nao me deixar esquecer que a vida é esse andar em círculos.
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